No exterior, vimos vários países decretarem lockdown como medida para conter a propagação do coronavírus. Alguns até estabeleceram multas e prisões. 

No Japão, o estado de emergência foi decretado inicialmente no dia 7 de abril para sete províncias e foi estendido para todo o território no dia 16. Mas ninguém fala em multas para quem sair na rua e o governo deixou claro que um lockdown seria impossível. Por trás desse motivo, está a Constituição japonesa.

Ordem vs Pedido

Quando o governo japonês decretou o estado de emergência no dia 7, concedeu autorização para que cada governo provincial adote suas medidas de redução de pessoas nas ruas e fechamento do comércio em geral. E segundo a reforma na lei aprovada em março, quando um foco de contágio for descoberto, o local pode ser interditado para dedetização, mas no máximo, por 72 horas.

Apesar do pomposo nome “decreto de estado de emergência”, pouca coisa mudou na rotina da maior parte dos cidadãos, que já vinham cuidando para evitar sair de casa e as aglomerações. 

Mas por que no Japão, a lei parece ser tão flexível? 

Uma das razões que se ouve falar muito entre os japoneses é que desde a Segunda Guerra Mundial, a Constituição estabelecida é centralizada nos direitos da população. 

Não dá para fazer como a França, por exemplo, que proibiu expressamente a circulação da população nas ruas, aplicando multas de até 3.750 euros (¥ 450 mil) e prisão. Itália e Inglaterra também estabeleceram multas aos infratores. Todos esses países têm suas próprias leis que garantem ao governo o direito de aplicar o lockdown.

No Japão antes da Guerra havia uma lei parecida. Mas para não repetir os erros do passado e impedir que os governantes tomem atitudes erradas, a Constituição foi mudada. O que existem, são algumas leis vigentes para catástrofes naturais, como terremotos, enchentes e tsunami.

Baseado em dados

Existem várias opiniões em relação à necessidade de uma lei que permita o lockdown no Japão.

Podemos nos valer de alguns dados para formar melhor uma ideia sobre o tema. As últimas estatísticas divulgadas no dia 11 pelo Google sobre movimentação de pessoas mostram que no Japão diminuíram 30% nas áreas de lazer e restaurante, em comparação ao final de fevereiro. Já em relação ao transporte público, houve uma redução de 48%. Tudo isso, sem nenhuma proibição, apenas seguindo um “pedido” feito pelo primeiro-ministro. Está certo que ele pediu uma redução de 80% e ainda falta um bocado para alcançar essa cifra, o que é preocupante.

Se analisarmos apenas o quesito “locomoção”, o Japão está longe de alcançar as cifras conseguidas nos Estados Unidos e outros países de decretaram o lockdown.

Apesar de todo esse contraste, é intrigante como o número de mortes e novos casos têm se mantido baixo no Japão em relação aos países citados acima.

Lógico que a ineficácia em aplicar testes para detecção do coronavírus nos relatam números bem menores que a realidade no Japão. Mas o índice de 236 mortes para uma população de 125 milhões de habitantes é baixíssimo. E o número de novos casos vem se mantendo estável, sem alta acentuada, desde o pico do dia 11 de abril. Vamos ver se a população vai continuar respeitando no feriado de Golden Week que já está logo aí.

Situação atual do Japão (18 de abril, 20h41)

  • Total de infectados pelo coronavírus: 10.746
  • Total de mortos: 236
  • Pacientes que tiveram alta: 1.159
  • Pacientes monitorados: 9.351

Número de casos novos registrados nas duas últimas semanas:

Províncias com mais casos:

  • Tokyo: 3.082 casos (71 mortos)
  • Osaka: 1.163 casos (10)
  • Kanagawa: 782 casos (17)
  • Chiba: 682 casos (11)
  • Saitama: 664 (13)
  • Fukuoka: 518 (11)
  • Hyogo: 513 casos (19)
  • Hokkaido: 429 casos (18)
  • Aichi: 405 casos (25)
  • Kyoto: 251 (3)

Números no mundo (17 de abril, 23h09)

Os 10 países com mais casos:

  • Estados Unidos: 735.287 casos (39.090 mortes)
  • Espanha: 195.944 (20.639)
  • Itália: 175.925 casos (23.227)
  • França: 152.978 casos (19.349)
  • Alemanha: 143.724 (4.438)
  • Inglaterra: 115.317 casos (15.948)
  • China: 82.735 casos (4.632)
  • Turquia: 82.329 casos (1.890)
  • Irã: 82.211 casos (5.118)
  • Rússia: 42.853 casos (361)

– Brasil: 36.925 casos (2.372 mortes)

– Japão: 10.746 casos (236  mortes)

Comentários

comentário(s)