“Não ache que isso nunca vai acontecer contigo”, foi a frase dita com emoção por uma mulher residente em Hokkaido que perdeu o pai, vítima do coronavírus. Na entrevista dela, publicada no Jornal Hokkaido, veio à tona tudo o que se passa na família das vítimas: discriminação, perda da renda, desassistência hospitalar…
“Se tivesse sido hospitalizado um pouco mais cedo, talvez meu pai não tivesse morrido”, disse ela, sem poder esconder sua raiva e tristeza.
O pai dela começou a passar mal no início de março. Durante a madrugada, a filha percebeu que ele não conseguia se levantar da cama, enquanto agonizava e a febre subia até 39,5ºC. Chamou a ambulância.
Demoraram para encontrar um hospital. Finalmente, quando foi atendido, o médico tirou o raio X e fez o exame de sangue. “Não é coronavírus”, disse o médico, que não realizou o exame de detecção do coronavírus (PCR).
No dia seguinte, a febre continuou alta. A filha ligou várias vezes ao centro de saúde, mas o pedido do exame foi recusado.
Demissão no trabalho
No segundo dia, ela levou o pai para outro hospital da cidade. Fizeram o exame nele, mas a enfermeira pediu para que ele aguardasse em casa.
Um dia depois, veio o telefonema do hospital confirmando a infecção por coronavírus. Uma ambulância parou em frente à casa e funcionários vestidos em roupas especiais levaram o pai. A vizinhança ficou sabendo do contágio.
Os dados do pai não foram divulgados na mídia, mas os vizinhos haviam espalhado a informação e a filha precisou deixar o emprego porque não aguentou as reclamações da empresa.
Enquanto isso, o estado de saúde do pai começou a piorar no hospital. Em meados de março, o médico disse: “Ele já não tem mais forças. É perigoso para você, mas quer vê-lo?”. Embrulhada em roupas especiais e falando por meio de um telefone celular coberto por um filme protetor, ela disse ao pai que os parentes estavam torcendo por ele. O pai apenas assentia com a cabeça. Ela não podia tocá-lo. “Não se preocupe, pai. Apenas descanse bastante”, disse ela.
Ao voltar para casa, jogou as roupas que vestia no lixo e entrou na banheira para relaxar. Foi quando o telefone tocou. “Ele acabou de falecer”, disse alguém do hospital. Para a mãe, que estava internada em outro hospital, ela não teve coragem de levar a notícia, pois o estado dela podia piorar.
Palavras que machucam
Devido às regras sanitárias, o máximo que foi permitido a ela, foi abraçar o caixão que abrigava o corpo do pai. “Perdão por ter deixado você morrer”, repetiu várias vezes. Mais tarde, recolheu as cinzas junto com o marido.
Ao informar os parentes e amigos próximos sobre a morte do pai, muitos enviaram palavras de conforto, mas a reação de uma parte das pessoas assustou-a. “Infelizmente, não vou poder te encontrar. Tenho medo do contágio”, “Vou deixar de ir à sua casa neste ano”, disseram outros.
A filha e o marido fizeram o teste de PCR mas não haviam sido infectados. Porém, o receio de portar o vírus e acabar transmitindo aos outros fez com que o casal ficasse em casa. O marido foi dispensando do trabalho e a situação financeira piorou.
“Não sabia que seria tão doloroso tudo isso”, disse a filha, que ainda não sabe como o pai pegou o coronavírus. Mas ela diz que seu coração nunca vai desistir. Que ninguém precise passar por esse sofrimento.
Situação atual do Japão (12 de abril, 18h49)
- Total de infectados pelo coronavírus: 7.303
- Total de mortos: 135
- Pacientes que tiveram alta: 762
- Pacientes monitorados: 6.406
Número de casos novos registrados nas duas últimas semanas:
Províncias com mais casos:
- Tokyo: 2.068 casos (40 mortos)
- Osaka: 766 casos (6)
- Kanagawa: 545 casos (12)
- Chiba: 467 casos (5)
- Saitama: 376 (6)
- Hyogo: 375 casos (14)
- Fukuoka: 362 (1)
- Aichi: 348 casos (23)
- Hokkaido: 264 casos (11)
- Kyoto: 193 (3)
Números no mundo (12 de abril, 18h49)
Os 10 países com mais casos:
- Estados Unidos: 530.006 casos (20.608 mortes)
- Espanha: 163.027 (16.972)
- Itália: 152.271 casos (19.461)
- França: 130.730 casos (13.851)
- Alemanha: 125.452 (2.871)
- China: 83.400 casos (3.349)
- Inglaterra: 79.885 casos (9.892)
- Irã: 70.029 casos (4.357)
- Turquia: 52.167 casos (1.101)
- Bélgica: 29.647 casos (3.600)
– Brasil: 20.964 casos (1.141 mortes)
– Japão: 7.303 casos (135 mortes)