Nem os especialistas sabem dizer a causa exata do sucesso do Modelo Japão para conter a propagação da Covid-19. O que escrevo a seguir é apenas uma reflexão pessoal. Encontrei a resposta em 10 fatores:

1. Informação

Os japoneses são ávidos por informação. No caso da Covid-19, os noticiários já avisavam desde o início do surto que o novo coronavírus era diferente e que os sintomas apareciam só depois de duas semanas, período em que ele já teria se espalhado entre as pessoas. Desde janeiro, a mídia se voltou quase que exclusivamente para falar sobre o assunto, seja com especialistas, recomendações sobre lugares a serem evitados e acompanhamento em tempo real dos casos. Tudo era levado muito a sério.

2. Higiene

Tirar os sapatos ao chegar em casa, lavar as mãos, fazer gargarejo, usar máscara… tudo isso já faz parte da rotina dos japoneses quando começa a esfriar e chega a temporada de influenza e norovírus (a gripe da barriga). O início do surto do coronavírus coincidiu com esse período. 😷

3. Distância natural

Diferente dos países ocidentais, onde o costume é cumprimentar com apertos de mão, abraços e beijos, por aqui no Japão, as pessoas geralmente se cumprimentam abaixando a cabeça e quase nunca se tocam durante uma conversa. 

4. Estrutura familiar

No geral, as famílias no Japão são compostas do casal e filhos. Os avós costumam viver separados, encontrando-se com os netos apenas nas férias e em ocasiões especiais. Apesar de ter a população mais idosa entre os países desenvolvidos, a propagação do coronavírus a essa faixa etária não avançou no mesmo ritmo do mundo ocidental, talvez, por esse motivo. No feriadão de Golden Week, o governo pediu à população para não voltar para a terra natal, o que também contribuiu para evitar a migração do surto das grandes cidades para o interior. 

5. Atendimento médico

O desafio foi grande para o Japão definir as regras iniciais da triagem para os testes de PCR, tentando evitar que as pessoas lotassem os hospitais ao coincidir com a temporada da influenza; com o congestionamento hospitalar, as dificuldades seriam grandes para identificar as duas doenças e aumentaria o risco de contágio dentro dos hospitais. A dificuldade do acesso aos testes inibiu o crescimento dos números, mas ainda hoje é muito criticada. Porém, um dos grandes méritos para o número tão baixo de vítimas fatais está no próprio sistema sanitário do Japão. A média de hospitais é de 13 para cada mil habitantes e todos os cidadãos têm acesso igual aos tratamentos. Os centros especializados são equipados com o sistema ECMO – uma aparelhagem que faz muito mais do que um respirador artificial – substituindo o trabalho dos pulmões e fígado até que os órgãos sejam recuperados. 

6. Padrão econômico

Com uma economia estável e vários subsídios emergenciais – o Japão aplicou o maior orçamento do mundo em comparação ao PIB –, a maior parte das famílias conseguiu zelar as recomendações do governo e permaneceu em casa, mantendo o distanciamento social.  

7. Medidas iniciais 

As medidas iniciais, como cancelamento das aulas e eventos, suspensão das atividades não essenciais e a aplicação do trabalho remoto contribuíram para conter a pandemia. O incrível é que todos seguiram as “recomendações”.

8. Psicologia

O respeito à saúde do próximo falou mais alto do que a satisfação da própria vontade. Foi duro não sair de casa para passear sob as cerejeiras na época mais linda do ano. 🌸

9. Geografia

Com uma área de quase 378 mil km², menor do que o estado de Minais Gerais, o Japão tem a 10ª maior população mundial, com 124 milhões de habitantes. Se for analisar apenas pelo tamanho, isso explica a facilidade para controlar a pandemia. Mas não podemos esquecer que é muita gente, num arquipélago pequeno, o que tornaria fatal se houvesse um grande foco que atingisse o país todo. Ainda bem que isso não aconteceu. 

10. Lições do passado

Quem passou por 11 março de 2011, sabe do que o Japão é capaz. Naquela época, mesmo após um terremoto de M9.0, um tsunami que chegou a 40 metros e um acidente nuclear, o sentido de organização superou qualquer coisa. Apesar do medo da radiação no ar, falta de comida e o país paralisado, as pessoas buscavam as informações corretas e tomavam as atitudes necessárias. O governo agiu rápido, mas o que mais me surpreendeu é que cada um sabia o que tinha que fazer e ninguém reclamava. Por ser um país sujeito a muitas tragédias naturais, os japoneses têm um instinto de sobrevivência, que é baseado na união, organização e respeito. 🙏

Esses são os meus 10 palpites. Quem lembrar de mais algum fator que deixei escapar, por favor, me ajude! 

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