Nove anos se passaram mas lembro nitidamente, como se fosse ontem, quando o chão começou a tremer e era envolvida por um barulho assustador. Os objetos começaram a cair, as janelas corrediças se abriram e eu não podia ficar em pé. Gritos vinham da rua. Foi como uma eternidade. E cheguei a acreditar que não pudesse escapar viva.

Às 14h46 do dia 11 de março de 2011, o Japão foi atingido pelo Grande Terremoto do Leste do Japão. O tsunami que se seguiu deixou mais de 18 mil mortos e desaparecidos.

Estive nos locais mais afetados, conversei com pessoas que perderam suas casas, plantações, um pai que havia perdido o filho… Nunca senti tanta impotência com as palavras… e tanto medo do mar.

Num dos abrigos comunitários, me juntei a um grupo de voluntários que, munidos de bacias grandes e água quentinha, decidimos lavar os pés dos desabrigados, com massagens para evitar a síndrome da classe econômica. Começamos com conversas amenas, sorrisos trocados… mas olhei para a senhora ali sentada à minha frente e as lágrimas escorriam de seu rosto. Aquele contato humano, o conforto que sentia nos pés – talvez pela primeira vez em muitas semanas – fez transbordar um sentimento que ela tentava sufocar dentro de si. A emoção era tão forte, que eu também não conseguia pronunciar uma palavra sequer. Apenas tentei me concentrar naqueles pés sofridos. Naquele momento, eu sabia que ela estava sem nenhum familiar por perto e que precisaria ser muito forte dali para frente. Não apenas ela… mas tantas e tantas pessoas. 

Ainda hoje 40 mil pessoas em Fukushima – onde ocorreu o acidente nuclear – ainda estão sem poder voltar para suas casas. Em alguns locais, a radioatividade ainda é alta. 

Passados nove anos, o que eu posso dizer é que vivemos num país onde os terremotos são constantes. Não custa nada nos mantermos cautelosos, seguindo as dicas certas de prevenção e reforçando os laços com as pessoas ao redor. No momento de apuro, podemos nos ajudar uns aos outros.  

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O vídeo abaixo mostra um arco-íris que apareceu logo depois das 14h46, em Natori (Miyagi), durante a cerimônia em homenagem às vítimas de 11 de Março

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