O preço da gasolina vem caindo dia após dia. Hoje, 5 de maio de 2020, a cotação média do litro da gasolina regular estava em ¥ 113 (R$ 5,86), mas em alguns postos, podia ser encontrado por menos. Esse colapso da demanda por petróleo que estamos vivendo hoje, poderá ter consequências desastrosas no futuro.

Essa fonte da energia para o nosso cotidiano e também para a economia não conseguiu manter-se imune à atual pandemia. Pela primeira vez na história, os barris de petróleo estão sendo negociados no negativo.

Até hoje, o mundo viveu duas grandes crises mundiais de queda do preço do petróleo, em 1986 e 2014. Mas em nenhum momento, o valor chegou a ficar negativo. A crise atual parece ser de outra dimensão.

A nova dimensão

Dessa vez, além da crise causada pelo coronavírus, o estopim foi dado pela Arábia Saudita no dia 8 de março. Em represália à Rússia que não quis reduzir a produção, conforme impôs a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), a Arábia Saudita começou uma guerra de preços que fez despencar o valor do barril em mais de 26%. Antes disso, o valor já havia caído 30% desde o início do ano.

Geralmente, a OPEP entra como intermediadora e encontra uma solução, como aconteceu nas duas crises passadas. Mas dessa vez, o colapso nos preços continuou, chegando a entrar na esfera negativa.

Por mais que os países produtores diminuíssem a produção, não foi possível equilibrar com os estoques no mercado, e os preços saíram do controle. Para piorar, com a atual pandemia, as pessoas pararam de viajar e locomover-se, reduzindo bruscamente a demanda pelo petróleo. Essa é a outra dimensão dessa crise.

Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), em abril a demanda mundial sofreu uma redução de 29 milhões de barris em comparação ao mesmo período do ano anterior. Uma queda de 30%. É a primeira vez na história.

E se a pandemia atual demorar por mais tempo? Os estoques de petróleo alcançarão o limite máximo. E os países produtores agora fazem de tudo para diminuir a produção. 

Dois cenários à vista

Em uma entrevista ao Financial Times, o diretor executivo da Associação Internacional de Óleo e Produtores de Gás, Gordon Ballard, disse que o coronavírus mudou radicalmente a atividade econômica.  

O sistema remoto de trabalho é um desses exemplos. Já não é mais necessário ir até o escritório para fazer reuniões ou fechar negócios. É o “novo normal” que começa a se estabelecer.

Ainda não dá para saber como tudo isso vai afetar nas empresas do setor ferroviário, aéreo, automotivo e todos os demais segmentos relacionados ao combustível. Se não voltarem ao “normal de antes do coronavírus”, o impacto será grande na economia. 

Se demorar, pode ocorrer um “dominó sombrio”, na opinião do diretor do Instituto de Pesquisa Econômica de Energia do Japão, Ken Oyama.

O primeiro cenário

Segundo os especialistas, podem haver dois cenários no futuro.

No primeiro, ficam os países dependentes das exportações como os do Oriente Médio, a Rússia e inclusive o Brasil, que sofreriam fortemente com o impacto.

A Arábia Saudita estabelece como margem de segurança, um valor de US$ 80 por barril, enquanto a Rússia conseguiria aguentar até US$ 40. Mas a média no final de abril estava em US$ 10. Conforme os países começarem a sentir o rombo nas finanças e os negócios caírem, respingarão nas ações e mercados financeiros.

As moedas dos países exportadores também precisam ser monitoradas. No Brasil, o real se desvalorizou 20% e na Rússia, o rublo caiu 10% em relação ao dólar desde março. Tudo isso pode contribuir para a queda da credibilidade no mercado monetário internacional.

O segundo cenário

No segundo cenário, ficam os Estados Unidos. Se as empresas de petróleo de xisto quebrarem, podem desencadear uma reação em cadeia no mercado financeiro.

Por agora, é mais do que urgente uma redução drástica da produção. Mas se os países produtores continuarem insistindo nessa guerra de redução de preços, precisam estar preparados para dois cenários que ninguém gostaria de ver. 

Para nós, resta acompanhar com o coração na mão o desfecho dessa história. 

Comentários

comentário(s)